agosto 18, 2009

It fit when I was a kid (Parte I) - O que se espera de um Terceiro Álbum



O engenheiro de som e produtor Jimmy Iovine (Iovine foi engenheiro de som de John Lennon e de Bruce Springsteen; produziu U2 e Patti Smith, entre outros) disse uma vez que o terceiro disco de uma banda é, normalmente, o melhor. Iovine aparece falando isso no documentário Runnin' Down a Dream, sobre o grupo Tom Petty & The Heartbreakers, do qual produziu Damn the Torpedoes, exatamente o, hã, terceiro álbum. Logo se nota que Iovine não é o cara mais idôneo para fazer esse tipo de afirmação (embora Damn the Torpedoes seja talvez o melhor trabalho de Tom Petty e cia), mas o raciocínio para explicá-la faz um certo sentido: para esse americano do Brooklyn, que em 1990 largou a produção para se tornar empresário (Iovine é co-fundador da Interscope Records), o álbum de estreia de um artista ou de uma banda é bom porque é feito de composições nas quais os jovens músicos, mesmo que inconscientemente, trabalharam por quase uma década. A seguir, o problema estaria na pressa para lançar o segundo álbum: faltam mudanças e sobram autoclichês reciclados; falta evolução: o artista sofre com a Maldição do Segundo Álbum - Sophomore Slump, em inglês (sophomore originalmente se refere a estudantes que estão no segundo ano da faculdade, e slump é adicionado àqueles que começam a levar o curso pouco a sério depois de deixarem de ser calouros).

Só na próxima tentativa é que a banda deve enfim acertar as coisas, apresentando composições originais, descobrindo e amadurecendo uma sonoridade própria. Iovine pode ou não ter dito isso para se enaltecer de alguma forma, não importa; a verdade é que existem diversos álbuns considerados clássicos, às vezes sendo as melhores gravações que um grupo fez, que são seus terceiros discos. (Isso não prova a teoria de Iovine, apenas demostra um certo padrão especulativo.) São alguns: London Calling, do Clash, The Queen is Dead, do Smiths, Ok Computer, do Radiohead, Raw Power, do Stooges, Raising Hell, do Run-D.M.C., Master of Puppets, do Metallica, Screamadelica, do Primal Scream, Loveless, do My Bloddy Valentine, Parklife, do Blur, White Blood Cells, do White Stripes, Dear Science, do TV on the Radio.

Nem todos esses artistas tiveram fracassos no segundo e sucesso no primeiro álbum, como prevê a teoria do Terceiro Álbum Clássico de Iovine. Mas enfim. Da forma como foi descrito, esse processo se aplica claramente ao The Jam.

Em maio de 1977, cinco dias antes do Guitarrista-Vocalista & Compositor Paul Weller completar 19 anos, a banda britânica The Jam lançou In the city, um debute impressionante, que misturava a (então) moderna agressividade do punk com o senso melódico de bandas como The Who e Kinks e do R&B da década de 60. Aproveitando a visibilidade alcançada por In the city, a banda compôs, gravou e lançou o segundo disco, This is the modern world, menos de 7 meses depois da estreia, em novembro do mesmo ano. O apressadinho descrito por Iovine. This is the modern world não é um disco ruim, nem uma completa involução no som do Jam, mas não acrescenta quase nada ao que já havia sido criado e explorado em In the city, e algumas vezes piora.

No fim de 1978 veio a redenção (e a glória eterna, amém): o Jam lançou o terceiro disco, All Mod Cons, primeiro de uma sequência de três grandes álbuns gravados pela banda em três anos (Setting Sons, em 79, e Sound Affects, em 1980), nos quais Weller se consagrou como um dos maiores compositores da história do rock inglês.

Corte para 2005: o mundo assiste ao surgimento da primeira grande banda da geração internet, influenciada diretamente tanto pela tradição do rock quanto por aquele novo rock pós-Y2K: Arctic Monkeys. A badalação em torno do quarteto é impressionante. Através de mp3s divulgados na web o grupo pula de uma banda de adolescentes desconhecidos para a salvação do rock, e daí para os píncaros do pop. Whatever People Say I Am, That's What I'm Not, o disco de estreia, foi lançado em janeiro de 2006, e o hype em torno do álbum chegou ao ponto de a revista semanal NME inclui-lo em uma lista dos cinco melhores álbuns britânico de todos os tempos. Não demorou para que o guitarrista, vocalista e compositor da banda, Alex Turner, então com 20 anos, fosse comparado a Noel Gallagher, do Oasis, e, depois, a Paul Weller - o melhor compositor inglês desde Paul Weller, disse a mídia inglesa.

É inegável que Whatever People Say... é um bom disco de rock, embora cru e, como em várias estréias, seja possível identificar com certa clareza as influências da banda. A produção do segundo disco foi acelerada, como fora com o Jam quase 30 anos antes: começou enquanto o Arctic Monkeys ainda estava na turnê de lançamento do primeiro disco, e, em abril de 2007, Favourite Worst Nightmare chegou ao mundo. Vale saber que algumas das principais influências do Arctic Monkeys não tiveram segundos álbuns melhores que os primeiros: Strokes não teve, nem o Libertines; nem o Jam nem o Clash nem o Smiths. Mas não foi esse o caso do Arctic Monkeys. Em Favourite Worst Nightmare a banda potencializou as propostas do primeiro disco e chegou à sonoridade própria que faltava em Whatever People Say.

Há também uma estatística de bandas com ótimos segundos álbuns às quais os Mokeys se unira: Nirvana, em Nevermind, Pixies, em Doolittle, Black Sabbath, em Paranoid, Beastie Boys, em Paul’s Boutique, Queens of the Stone Age, em R. Dessas bandas, nenhuma fez um terceiro disco obviamente superiror ao segundo; mantiveram-se a altura apenas: In Utero, Bossanova, Master of Reality, Check Your Head, Songs for the Deaf são todos discos bons, alguns melhores que outros, mas o que têm em comum é que nenhum deles foi um passo tão radical para a banda quanto a gravação anterior.

E entre essas bandas temos dois dos novos caminhos escolhidos por Alex Turner e seus amigos: a nova obsessão da banda por Black Sabbatah, e a escolha de Josh Homme, líder do Queens of the Stone Age como coprodutor (ao lado de James Ford, que produziu Favourite...), seguida da mudança da Inglaterra para os Estados Unidos. A impressão de que se tinha, aumentada pela escolha de gravar com Homme no deserto da Califórnia, era de que o Arctic Monkeys confirmaria pelo menos duas das previsões de Iovine - a do primeiro disco, cru e ótimo, já se confirmara; a segunda não; mas ainda restava a última, do terceiro disco como o ápice. Previsões em relação aos Monkeys não parecem funcionar.

Humbug, o terceiro disco, é coeso como um disco, mas nunca um ápice. É a descoberta de novos territórios, mas para a banda, não para o mundo. E é mais maduro, embora, de uma maturidade às vezes óbvia, se deixe cair nos clichês que envolvem se distanciar da adolescência (quando adolescência significa potência, não tédio): a melancolia, a contemplação. Uma negação pelo oposto. Perde-se assim muito daquela assinatura própria descoberta em Favourite Worst Nightmare; é como se fosse um primeiro álbum, mais uma vez. Eles tentam emular novas influências, mas acabam soando mais como outras coisas do que como Arctic Monkeys, de uma forma abafada: como se a potência adolescente dos outros dois discos se reduzisse a uma espécie de explosão impedida de expandir por sedativos que eles mesmos escolheram tomar. E embora não pareça o velho Arctic Monkeys, Humbug tampouco descobre um novo (poderia haver uma implosão, mas não há). Em Humbug, a bateria de Matthew Helders, talvez o melhor baterista de rock na atualidade, é subaproveitada; os pedais de efeito das guitarras parecem emprestados diretamente do set de Josh Homme; e as passagens de teclado, às vezes parecem gravadas para um disco do próprio QOTSA (e seria divertido vê-las interpretadas por Natasha Shneider, a tecladista russa que acompanhava a banda, na turnê feita pós-Lullabies to Paralyze, com seu piano na diagonal).



Breve:

It fit when i was a kid (Partes II & III) - Discussões etimológicas e a Música como Linguagem

agosto 10, 2009

suporte a somália

Na Época:

Grupo quer oficializar Partido Pirata no Brasil
Movimento existe na internet há dois anos e agora se organiza para tentar virar partido político

Depois de dois anos existindo apenas como um grupo de pessoas que se comunicavam pela internet, o Partido Pirata do Brasil se prepara para tentar a sorte no mundo da política real. Mas legalizar-se como agremiação política para poder concorrer nas eleições não é tão simples, e pode parecer estranho para um grupo que existe muito mais no mundo digital do que no mundo físico. É necessário reunir 500 mil assinaturas, escritas à caneta em folhas de papel, de pessoas de todo o Brasil, e cada Estado tem um mínimo necessário de assinaturas. Jorge Machado, professor de políticas públicas da faculdade de Sociologia da USP e um dos participantes do partido em São Paulo, aponta essa como a maior dificuldade na oficialização. "Também é preciso ter um gabinete em Brasília, mas isso seria mais fácil de resolver", conta. "Temos participantes do partido lá. O problema é o recolhimento das assinaturas, que tem que ser em papel, separado por seção eleitoral, e tudo precisa ser enviado para cada seção para confirmação".

O meio mais fácil de contornar isso, acreditam os membros do grupo, é o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) aceitar que a lista de apoiadores seja feita através de assinaturas digitais. Segundo Machado, os cartórios brasileiros já possuem a tecnologia necessária para fazer esse processo, o que falta é apenas a autorização do tribunal. "Já encaminhamos um pedido para o TSE, que foi recusado, mas agora estamos preparando outro, com mais informações de como isso seria realizado", conta. "Alguns tabeliães se uniram ao grupo recentemente e estão ajudando a preparar a proposta". Machado acredita que com a liberação do uso de assinaturas digitais seria fácil conseguir a quantidade necessária, e talvez até mesmo concorrer às eleições de 2010 - para isso o partido teria que ser oficializado antes de setembro.

Continua lá. :)

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