Quando 2008 estava quase chegando ao fim, eu me dei conta de que logo estaríamos entrando no último ano da década e que a não ser pelo fato de o alternativo ter se deslocado do rock para o eletrônico e do eletrônico ter se trasformado em um novo rock mais do que em um novo eletrônico, ainda não havíamos abandonado completamente o início da década, nem aquele outro novo rock e nem, obviamente, aquele álbum de 2001. Tanto que oito anos depois estamos aqui esperando ansiosamente [eu pelo menos] pelo quarto disco do Strokes.
Foi a memória de Is This It como o talvez mais influente álbum feito nesse século até agora que me fez pensar em quais seriam os melhores discos da década, mesmo que 2k9 ainda nem tivesse começado. Mas só depois de dias imaginando essa lista é que me dei conta de que um dos melhores álbuns que já pude ouvir também foi lançado em 2001: enquanto o Strokes debutava com estilo, outra banda americana, o Fugazi, criava sua última obra de arte, The Argument.
Capa do The Argument, design de Jem Cohen, que também foi diretor de Instrument, um documentário/video-arte sobre o Fugazi
O Fugazi foi formado em 1987 por três veteranos da cena punk de Washington, D.C., o guitarrista e vocalista Ian Mackey (Teen Idles, Minor Threat, Embrace), o baterista Brendan Canty (One Last Wish, Rites Of Spring) e o baixista Joe Lally. Depois, o também guitarrista e vocalista Guy Piccioto, parceiro de longa data de Canty, se juntou ao grupo.
Ainda na década de 80, a banda lançou dois EPs, Fugazi (88) e Margin Walker (89), reunidos, em 1990, sob o título 13 Songs, uma das gravações mais viscerais do pós-hardcore. No mesmo ano saiu o primeiro álbum, Repeater, com uma sonoridade ainda parecida com a dos EPs.
Pelos próximos onze anos e cinco álbuns o Fugazi não repetiria mais fórmulas, dando um passo à frente em cada álbum, e é triste ver que muitas vezes ele acabaram sendo criticados por não soarem mais como em 13 Songs ou em Repeater.
Shut the Door, do álbum Repeater
Steady Diet of Nothing foi lançado em 1991 e In on the Kill Taker, em 1993. Mas foi em 1995 que a banda novamente atingiu um ápice, com Red Medicine, um álbum maníaco e violento cheio de composições brilhantes. E em 1998 saiu aquela que deveria ser a última gravação do Fugazi, batizada de End Hits.
Bed for the Scraping, do álbum Red Medicine
Entre janeiro e fevereiro de 2001, meses antes de declararem formalmente o hiato da banda, Mackey, Piccioto, Canty e Lally se juntaram a um segundo baterista, Jerry Busher, para gravar The Argument. Embora algumas características desse álbum já pudessem ser ouvidas no End Hits, nada preparou realmente para o que essas 11 faixas iriam ser: um sofisticado e bonito vislumbre dos caminhos que o rock poderia tomar nas mãos daquele fab four.
Life and Limb, do álbum The Argument
Embora a velocidade e os vocais gritados mais do que nunca dessem lugar à melodias e texturas, a pegada punk clássica do Fugazi pode ser ouvida em todas as músicas, mesmo em Argument, uma faixa lenta de clima tão incrivelmente bonito que chega a comover.
Todos os álbuns do Fugazi foram lançados pela Dischord, gravadora que pertence à Ian Mackey e que foi responsável por discos de algumas outras grandes bandas, como Nation of Ulysses, Medications e Black Eyes.
Oh, do álbum The Argument
É uma pena que The Argument seja apenas um clássico perdido dessa década. Não imagino que vá aparecer na quantidade de listas que merecia. Ou as pessoas ainda lembram de Fugazi?
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